O aroma do leite fervendo na panela até se transformar em ambrosia é a mais antiga lembrança que remete Marta à cozinha. Morando na roça, em Canavieiras, sul da Bahia, acompanhou a mãe sempre mexendo o tacho, fazendo doce para os 6 filhos, aproveitando o leite que sobrava no curral. O bolo de Santa Terezinha foi a primeira experiência aos 12 anos. Aos domingos todos iam para a cozinha, cada um fazia um prato, num tempo em que a tradição era frango com macarronada.
Marta foi desenvolvendo o prazer e o amor pelas panelas, temperos e sabores, formou-se professora, seguiu a vida como muitas mulheres onde a cozinha é lugar de alimentar a família e receber os amigos. Casada com político importante na região, cansou de ouvir o marido orgulhoso dizer “minha mulher cozinha muito bem”. No fim do mandato do marido, dando um tempo à política, mudaram para Vitória (ES) para ficar mais perto do filho que se transformara em chef premiado.
O marido envolvido com novos negócios e a solidão no apartamento da cidade grande, chamou a atenção do filho que lhe propôs fazer Enem para Gastronomia na Universidade de Vila Velha. Estava há 40 anos fora da sala de aula, mas meteu a cara nos livros e foi aprovada. A faculdade lhe deu a técnica e somou aos saberes que tinha dos temperos. Seu objetivo era terminar a faculdade, fazer pós graduação, mestrado e se tornar professora universitária.
Mas o marido, um homem do campo, resolveu voltar para as terras em Cabrália e, quando viu, ela já estava sonhando em ter um restaurante. Buscou a parceria com o filho Danilo Amaral e assim nasceu o Maroca Praia, um restaurante com o pé na areia, na praia do Boboca, no povoado de Santo Antonio, bairro vizinho a Santo André. No 1º ano ganhou o prêmio de melhor prato do 4º Festival da Lagosta, tem uma equipe formada por moradores a localidade, o bairro onde mora há quase 20 anos, e no cardápio um mix de culinária afetiva e gastronomia contemporânea. Nas sobremesas estão as suas raízes, a ambrosia e o pudim de leite, ambos receitas de Dona Maroca, sua mãe.